Solinhas pesponta o futuro

Solinhas pesponta o futuro

Com uma nova casa desde junho de 2016, a Solinhas está a investir em duas áreas: a internacionalização e a inovação produtiva. A empresa familiar, há quatro anos conduzida em exclusivo pela família Fernandes, quer levar mais longe as suas linhas, reforçando mercados lá fora e adicionando novas valências produtivas cá dentro.

 

O desenvolvimento de novos produtos está na mira da Solinhas. A empresa – que entre máquinas, obras de recuperação e aquisição do edifício, investiu um milhão de euros nas novas instalações que ocupa desde junho do ano passado – quer alargar a sua oferta e está a trabalhar na criação de uma linha antifogo, «que já comercializamos mas não somos responsáveis por toda a produção», explicou a administradora Lurdes Fernandes, na entrevista publicada na edição de novembro do Jornal Têxtil (ver O mundo plano). «Temos um pequeno mercado de roupa de trabalho e pensamos que poderíamos ir mais longe nessa área se tivéssemos um produto nosso, português, que permitisse desenvolver esse mercado», revelou.

 

A empresa poderá ainda direcionar-se para o sector do calçado. «O futuro passará por aumentarmos o parque de máquinas, especialmente se entrarmos no calçado. Se formos para o calçado passa por um investimento na ordem dos 300 mil euros – são máquinas muito caras, muito diferentes. As nossas não estão preparadas para aqueles filamentos, que são muito resistentes. Se dermos um passo, e eu espero bem que sim, é para crescermos para o calçado», afirmou Serafim Fernandes.

 

Serafim Fernandes fundou a Solinhas em 1986, na altura com um sócio, que saiu há quatro anos, altura em que entraram para o capital da empresa as filhas Alexandra e Lurdes Fernandes. «Foi o sangue novo de que a empresa precisava», reconhece o progenitor. Segundo Lurdes Fernandes, a tempo inteiro na empresa, a sua entrada permitiu uma maior aposta em áreas como a digitalização. «Ver as coisas numa outra perspetiva, mais moderna, das necessidades, de um outro tipo de gestão que acho que faz todo o sentido hoje – mais apoiada num programa de gestão, não tão empírica», explicou. «É um bocado adaptá-la à modernidade, dentro dos moldes do que é a Solinhas. E depois há a perspetiva da continuidade, de continuar aqui por mais 30 anos, pelo menos», adiantou.

 

A chegada a novos mercados faz parte deste futuro que a Solinhas quer desenhar já no presente. Com uma unidade comercial na Tunísia, criada há 12 anos, a internacionalização está longe de ser uma novidade para a empresa, que exporta já 50% das 40 toneladas de linhas para coser, bordar e acolchoar que produz mensalmente, mas além do mercado tunisino (que representa um terço da faturação), a empresa quer reforçar a sua presença em Marrocos, Alemanha e França. «Entendemos que, tendo já sido muito bem-sucedidos na área da internacionalização, há outras perspetivas», apontou Lurdes Fernandes. «Queremos estudar e fidelizar os mercados que já temos», acrescentou.

 

Com um efetivo de 20 pessoas, Serafim Fernandes acredita que os trunfos da Solinhas «são os recursos humanos e a confiança que os clientes depositam em nós. As empresas que ainda, felizmente, existem em Portugal, que gastam linhas, são todas nossas clientes desde a primeira hora». Uma fidelização que tem permitido manter o volume de negócios anual à volta dos 3,2 milhões de euros. «Entendemos que o mercado precisa de muita atenção, muita persistência junto dos clientes, porque a concorrência é muito grande. Nos últimos anos, o consumo de linhas em Portugal – isto é uma estimativa minha – poderá ter baixado um terço, com o desaparecimento de tantas confeções, e os fabricantes de linhas são praticamente os mesmos», referiu ao Jornal Têxtil.

 

No entanto, a visão do empresário é otimista, sobretudo no que diz respeito ao “made in Portugal. «Nos anos 90 desacreditámos do que éramos capazes de fazer – alguém nos fez desacreditar, nomeadamente os políticos da Europa, não só os políticos portugueses. Passada essa fase, e transitando rapidamente para os dias atuais, analiso a têxtil da seguinte forma: tem futuro, é para continuar toda a vida, só que temos que nos adaptar aos tempos», afirmou. «Temos que ter capacidade de resposta, porque hoje as confeções vendem muito pela proximidade. E uma empresa tem de ter capacidade financeira para ter bons stocks, para dar a tal resposta e ser versátil. Uma empresa não pode ficar agarrada só a um determinado artigo e nisto tenho de prestar aqui uma grande homenagem aos industriais dos têxteis-lar, que é onde mais nos movimentamos. Por exemplo na área dos felpos, essa gente tem uma grande versatilidade hoje, faz coisas que eram impensáveis há alguns anos. Têm hoje grandes logísticas, para fazerem grandes stocks, para terem grande capacidade de resposta. Nós, portugueses, estamos a preparar-nos muito bem», destacou.

 

In Portugal Têxtil

 

 seta voltar